Segundo o site https://oglobo.globo.com/rio: Em 92,52% dos 107 dias do ano letivo de 2017, houve escolas e creches fechadas no RioEstudo revela que em mais 90% dos 107 dias de ano letivo no município, houve escolas e creches fechadas por tiroteios no Rio - Fabiano Rocha / Agência O Globo 05-06-2017
RIO - Os tiroteios que nos últimos anos vêm se multiplicando interromperam o funcionamento de pelo menos 381 escolas no primeiro semestre deste ano, afetando a rotina escolar de 129.655 alunos, ou seja 20,12% dos 641.655 matriculados na rede municipal do Rio. Com o objetivo de estudar o impacto da violência na educação da cidade e sugerir políticas públicas para a redução do problema, a Diretoria de Análise de Políticas Públicas (DAPP) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) realizou um estudo em parceria com o aplicativo e mapa colaborativo Fogo Cruzado.
Segundo levantamento feito pelo aplicativo, entre julho de 2016 e julho de 2017, a cidade do Rio de Janeiro registrou 3.829 tiroteios. Os dados foram cruzados com informações de instituições públicas de ensino do Rio de Janeiro (escolas e creches). A análise resultou em mapas e estatísticas do impacto da violência armada sobre a população em idade escolar na cidade do Rio de Janeiro.
Ainda de acordo com o levantamento, só no primeiro semestre deste ano, dos 107 dias do ano letivo, em 99 deles tiveram escolas e creches fechadas (92,52%). Das 388 escolas e creches municipais que tiveram as aulas paralisadas por causa de tiroteios, 36 escolas e creches não funcionaram nove dias ou mais. Embora a Zona Norte registre o maior número de casos, a que mais vezes ficou fechada está na Cidade de Deus, na Zona Oeste, paralisada por 15 dias. No entanto, o maior número de instituições de ensino fechadas foi registrado no Complexo da Maré: 42 escolas e creches municipais. Em seguida, Cidade de Deus e Complexo do Alemão, empatados com 21 unidades de ensino cada um.
Os bairros de Costa Barros, Acari e Cidade de Deus são os que concentram maior número de escolas municipais, estaduais e creches expostas à violência armada.
- A violência tem impacto direto na capacidade de aprendizado e de desenvolvimento de novas habilidades, comprometendo as possibilidades de vida de crianças e jovens. Quanto mais novo o aluno, maiores são os efeitos perversos provocados pela violência, como a falta de concentração e a dificuldade em absorver informações. Remover as escolas dessas áreas não é uma resposta adequada à situação porque as crianças e os adolescentes vivem nessas comunidades, então eles continuariam sofrendo os efeitos adversos da violência - diz a pesquisadora da FGV DAPP Bárbara Barbosa.
De acordo com os dados, o Complexo do Alemão registrou 218 registros e da Maré, 119 casos. As imediações da Avenida Brasil, na altura do bairro da Penha, com 128 registros, também chamam atenção. A análise aponta ainda que, no ano passado, dos 200 dias do ano letivo 157 tiveram escolas e creches fechadas (78,50%).
- O bairro de Acari, onde a estudante Maria Eduarda, de 13 anos, foi morta dentro da escola, também apresenta altos índices de violência. Em média, há um tiroteio a cada cinco dias na região. Os alunos de comunidades expostas à violência são privados da experiência educacional e têm a qualidade do ensino afetada. Já os estudantes em locais sem conflito gozam, livremente, do acesso à educação - ressalta a pesquisadora da FGV DAPP.
Mesmo a Zona Sul, com maior policiamento e menor número de comunidades em situação de risco, também foi afetada. O bairro de Copacabana registrou 106 tiroteios/disparos de arma de fogo. Porém, esses números estão espalhados espacialmente. Entre Ipanema e Copacabana, no Morro Pavão-Pavãozinho foram apontados 40 tiroteios, e no Morro do Cantagalo, em Copacabana, 28. Somados, foram 68 registros de tiroteios/disparos de arma de fogo nesta área. Num raio de 200 metros destes tiroteios funcionam uma creche municipal (Creche Municipal Elza Machado dos Santos – Tia Elza), uma escola municipal (Escola Municipal Presidente José Linhares) e um Ciep (Ciep Presidente João Goulart).
Por fim, os pesquisadores da FGV DAPP constataram também que, para mitigar os efeitos adversos da exposição à violência, o poder público deveria capacitar os professores de forma que eles possam atender às necessidades especiais de seus alunos e oferecer condições especiais de contratação para os profissionais que atuam nessas áreas, de forma a garantir estabilidade nas relações escolares, com o intuito de diminuir a rotatividade dos professores.
- Estas condições especiais devem abarcar desde adicionais salariais pelas condições de insegurança, até o acompanhamento psicológico continuado para os próprios professores, passando por cursos de capacitação mais frequentes _ defendeu Bárbara. Segundo ela, também é necessário que se proíba a polícia de usar creches e escolas como basesoperativas e garantir a presença de profissionais de saúde mental especializados em atender crianças e adolescentes comcomportamentos similares à TEPT , capazes de lidar com os traumas advindos da exposição rotineira à violência.
- Em um trabalho complementar, estender o atendimento às famílias residentes das áreas identificadas, com um programadomiciliar com o objetivo de instruir os pais e cuidadores das crianças afetadas. Estas políticas têm como objetivo priorizar a experiência educacional das crianças reconhecendo que a violência influencia nas oportunidades de desenvolvimento dos indivíduos de forma que, se acumuladas ao longo do tempo, podem ter efeitos irreversíveis - concluiu a pesquisadora.
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