Alunas da UFPE cobram medidas para conter estupros no campus Recife


Grupo discute o problema desde que aluna revelou ter sido abusada.
Ela contou que estava na saída da faculdade quando foi abordada.Alunas discutiram violência e realizaram caminhada para alertar demais estudantes e cobrar medidas de proteção às mulheres no campus Recife da UFPE na tarde desta quarta (Foto: Marina Barbosa / G1)Alunas discutiram violência e realizaram caminhada para alertar demais estudantes e cobrar medidas de proteção às mulheres no campus Recife da UFPE na tarde desta quarta (30) (Foto: Marina Barbosa / G1)                                                                Nesta quarta-feira (30), dez dias depois que uma aluna da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) revelou ter sido estuprada na saída da faculdade, estudantes se reuniram para protestar contra a falta de segurança enfrentada pelas mulheres no campus Recife da instituição. O grupo afirma que muitos outros casos de violência já foram registrados e apresentou as queixas à reitoria da UFPE após a manifestação.

“O relato do estupro evidenciou a insegurança da universidade e a necessidade de uma política de segurança voltada para a mulher. Este não foi o único caso. Na semana passada, por exemplo, uma menina sofreu uma tentativa de estupro no oitavo andar do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH)”, contou uma das alunas presentes no ato, que preferiu não se identificar. Ela ainda explicou ainda que os casos de violência aumentaram bastante no último semestre. “Já estou até saindo mais cedo da aula, por medo de ficar sozinha na parada à noite”, revelou.
“Este caso materializou a insegurança dentro da universidade. Mas esse problema está institucionalizado, porque a reitoria não responde da maneira que devia responder, parece que está fechando os olhos para esses problemas. É por isso que estamos mobilizadas, para que as mulheres possam resistir e existir enquanto mulher”, reclamou outra estudante. “A segurança é precária em todo o campus, mas os casos de estupro são muito abafados”, confirmou um menino que também participou do ato. “Vim mostrar meu apoio às mulheres, porque esta é uma questão muito séria”, explicou.
Quem mora na Casa de Estudante Feminina, que fica em frente ao terreno baldio onde o estupro foi realizado, confirma que o caso apenas trouxe à tona o clima de medo que toma conta do campus e do entorno da UFPE. “Em maio, outra menina foi estuprada perto da parada. Também já houve vários assaltos e uma tentativa de sequestro. Sempre me recomendaram a não passar sozinha pela 'Rua dos Bancos'”, revelou Daniela Moraes, citando a via ao lado da reitoria, onde a última vítima foi violentada. Ela conta que saiu de São Bento do Una, no interior de Pernambuco, para estudar nutrição no Recife. “Eu sabia que aqui era perigoso, mas nunca achei que a situação ia chegar a este nível."
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Grupo caminhou do Restaurante Universitário até a reitoria da UFPE (Foto: Marina Barbosa / G1)Grupo caminhou do Restaurante Universitário até a reitoria da UFPE (Foto: Marina Barbosa / G1)
Encontro e manifestação
O grupo se reuniu em frente ao Restaurante Universitário por volta do meio-dia desta quarta para discutir essas questões. Foi a terceira reunião das estudantes, que se mobilizaram para enfrentar o problema depois que o relato do estupro foi postado nas redes sociais. Cantando pelo fim do machismo e carregando cartazes que revelavam a falta de segurança no campus, o grupo caminhou até a reitoria da universidade por volta das 15h.
Na chegada à reitoria, houve bate-bota entre motociclistas e manifestantes (Foto: Marina Barbosa / G1)Na chegada à reitoria, houve bate-bota entre alunas
e motociclistas (Foto: Marina Barbosa / G1)
A manifestação seguiu pacífica pelo campus, alertando e informando os demais estudantes sobre os casos de violência. Mas, na entrada da reitoria, as estudantes fecharam a BR-101 por cerca de dez minutos e fizeram uma roda de ciranda. Motoristas ficaram irritados e um motociclista tentou furar a manifestação. Ao arrancar, ele acabou machucando o pé de uma das alunas.
Chegando à reitoria, as estudantes foram recebidas por representantes da instituição. Por nota, a assessoria de comunicação da UFPE informou que a pró-reitora para Assuntos Estudantis, Ana Cabral, recebeu as reivindicações do grupo. Antes disso, o reitor Anísio Brasileiro se reuniu com o secretário de Defesa Social de Pernambuco, Alessandro Carvalho, para discutir o reforço na segurança no entorno do campus. O resultado da reunião será apresentado em coletiva de imprensa nesta quinta-feira (1º).
Na chegada à reitoria, houve bate-bota entre motociclistas e manifestantes (Foto: Marina Barbosa / G1)Na chegada à reitoria, estudantes fizeram roda de ciranda (Foto: Marina Barbosa / G1)
Relato
A estudante que revelou ter sido vítima de estupro desistiu do sonho de se formar na UFPE após o caso. Aos 19 anos, ela foi violentada no dia 29 de agosto, mas só admitiu a violência em 19 de setembro. Ela publicou um texto no Facebook contando detalhes sobre o crime, cometido em um terreno próximo ao campus da instituição. Ela também prestou queixa na Delegacia da Mulher.
No relato, que foi compartilhado por mais de duas mil pessoas, a vítima conta que foi abordada por volta das 21h, quando voltava para casa, no bairro do Engenho do Meio, Zona Oeste do Recife. De acordo com a publicação, ela desceu na parada de ônibus logo após a reitoria da UFPE e viu um homem suspeito por perto. Não adiantou mudar o caminho para despistá-lo. Quando a jovem perdeu o homem de vista e retomou a rota de casa, que passa pela tal 'Rua dos Bancos', ele estava lá, fingindo que amarrava o tênis.
Inicialmente, ele disse estar armado e pediu a mochila da estudante. Em seguida, como consta no relato, o homem mudou de ideia e mandou-a andar ao seu lado “como se nada estivesse acontecendo”. Sob ameaças, ela teve que responder perguntas pessoais e foi levada a um terreno abandonado que pertence à UFPE, próximo à universidade. Com um golpe no pescoço, ele deixou-a vulnerável e praticou o ato sexual. “Durante todo o período que ele abusou de mim, eu estava semiconsciente. Ouvia alguns barulhos, mas não tinha controle nenhum do meu corpo”, diz o texto. Ao fim, a garota detalha que acordou nua, com o corpo totalmente coberto por folhas.
Estudante que revelou ter sido estuprada foi abordada na saída da UFPE. Ela foi violentada neste terreno baldio, em frente à Casa da Estudante (Foto: Marina Barbosa / G1)Estudante que revelou ter sido estuprada foi abordada na saída da UFPE. Ela foi violentada neste terreno baldio, em frente à Casa da Estudante (Foto: Marina Barbosa / G1)
Junto ao texto, ela também divulgou imagens dos ferimentos que teve; as cicatrizes, no entanto, são muito mais profundas. Ela morava sozinha na capital pernambucana, e acabou tendo que desistir do curso e voltar para a casa dos pais, na cidade natal, que também não quis informar. “Além de ter destruído o meu sonho de me formar na UFPE, o que já mudou muito o meu futuro, eu tenho sido uma pessoa totalmente diferente do que eu era. Mas essas coisas melhoram com o tempo”, disse, otimista.
Por enquanto, o medo de andar sozinha e passar por lugares abandonados só cresceu. “Por ser mulher, sempre tive um pouco mais de medo quando ando sozinha na rua. Agora estou com mais medo ainda. Cheguei a me proibir de usar algumas roupas. Sei que a culpa não é da roupa que uso, mas tenho evitado. Não quero ver homens me olhando com desejo”, diz.
A UFPE lamentou o ocorrido e disse que a Superintendência de Segurança Institucional está investigando o caso, junto à delegacia da Várzea. Em nota, a instituição esclarece que está em contato com a aluna para prestar apoio psicossocial. Ao todo, a universidade tem 193 vigilantes terceirizados e 300 servidores federais dedicados à segurança. "Infelizmente, todo esse aparato não foi suficiente para impedir a covarde agressão", finaliza a nota.
Estudantes cobram política de segurança voltada para as mulheres na UFPE (Foto: Marina Barbosa / G1)Estudantes cobram política de segurança voltada para as mulheres na UFPE (Foto: Marina Barbosa / G1)

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