Candidatos a presidente do PT suspeitam de compra de votos na eleição direta no partido


  • Número de petistas aptos a votar cresceu 322%apenas alguns dias antes do final do prazo para estar em dia com as anuidades
  • Esta era uma das exigências para que o militante possa votar para presidente do PT em novembro
GERMANO OLIVEIRA (EMAIL·FACEBOOK·TWITTER)
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SÃO PAULO - Candidatos à presidência nacional do PT em oposição ao atual presidente Rui Falcão, que disputa a reeleição, lançaram nesta quarta-feira suspeitas sobre o Processo de Eleição Direta (PED), a ser realizado no próximo dia 10 de novembro para escolher a nova direção partidária. Quatro dos seis candidatos consideraram "no mínimo estranho" que o número de petistas aptos a votar na eleição tenha subido 322% em apenas sete dias - ou dobrado nos últimos três dias que antecederam o dia 30 de agosto, conforme informou a coluna Panorama Político, do jornalista Ilimar Franco. A data era o prazo final para que o militante estivesse em dia com as anuidades, uma das condições para que possa ser eleitor no PED.
Segundo alguns candidatos, como Valter Pomar, até morto pagou a mensalidade em Minas Gerais no último dia 30 para poder votar. Em cidades do Espirito Santo, ele diz ter indícios de que alguém da direção da chapa favorita à reeleição, de Rui Falcão, pode ter pago as mensalidades dos militantes de cidades como Cariacica e Colatina.
Ele pediu uma investigação sobre o salto monumental no número de petistas que regularizaram anuidades junto à direção do partido às vésperas do prazo final. A direção do PT, no entanto, nega a compra de votos e diz que esse aumento se deve ao fato do partido ter se mobilizado em peso para participação no processo eleitoral que vai escolher o novo presidente no final do ano.
Pomar, candidato a presidente apoiado por uma corrente de esquerda, disse ter suspeitas de que houve pagamento em massa nos dias que antecederam 30 de agosto. Ele suspeita que esses pagamentos possam ter sido feitos por alguém ligado às correntes que mais tem recursos, como a chapa do atual presidente Rui Falcão.
— Nas cidades de Cariacica e Colatina, no Espirito Santo, a média era de dez eleitores fazendo pagamentos das anuidades, mas nos últimos três dias, a média subiu para 2 mil por dia, o que nos faz crer que alguém pagou por militantes que estavam em débito, o que os tiraria da votação em novembro. Em Minas Gerais (em cidade que ele não divulgou o nome), houve até três mortos que pagaram as mensalidades. Por isso, pedimos investigação à direção do partido para que eles expliquem o que aconteceu nessas localidades. Dá para saber se os pagamentos foram feitos num único caixa, no mesmo dia e horário — disse Valter Pomar, que atualmente tem menos de 10% dos votos do diretório.
Ele disse que somente no dia 30, prazo final para a regularização dos pagamentos, 311 mil petistas pagaram as anuidades, o que é no mínimo estranho que tanta gente pague as mensalidades num único dia. Em três dias esse número saltou de 400 mil para 780 mil, realçando as suspeitas de que "alguém" pagou coletivamente para toda essa gente ficar emdia com as mensalidades e assim poder votar no PED em novembro.
- A minha chapa, a Esperança é Vermelha, está pedindo uma investigação formal sobre essa movimentação atipica. Está claro que esse salto imenso nos pagamentos desmonstra ter havido o pagamento coletivo das mensalidades, o que é proibido no PED, caraterizando abuso do poder econômico. Agora, vamos aguardar que os nossos recursos que levantaram as suspeitas de compra de votos possam ser analisados e, em se constatando as irregularidades, que se corrija os erros. Não queremos jogar suspeição sobre todo o processo, mas sobre esse fluxo anormal. As irregularidades precisam ser apuradas — disse Pomar.
O presidente nacional do PT, Rui Falcão, preferido na disputa e que hoje detém 60% do diretório nacional, disse, por meio de sua assessoria, que não iria comentar o assunto, mas atribuiu ao aumento dos pagamentos nos três dias da data limite como resultado da grande mobilização do partido nos Estados para ter o maior número de militantes em condições de votar no PED em novembro.
"Sempre a mesma coisa", diz candidato
O candidato a presidente Markus Sokol, da corrente O Trabalho, de esquerda, disse que esse aumento do número de filiados que pagaram as anuidades já havia ocorrido nos PED realizados anteriormente.
— Em todo PED acontece a mesma coisa (pagamentos em massa às vésperas do prazo final) e nada é feito. É por isso que defendemos o fim do PED e que se estabeleça outra forma de eleger os dirigentes, com debates nos encontros do partido, com o militante votando nas chapas com o levantar das mãos, como acontece em qualquer entidade sindical. O nosso modelo não é democrático, vem de cima para baixo, embora seja melhor do que uma ditadura. Acho que devemos voltar a escolher nossos dirigentes em movimentos de base — disse Sokol.
Para ele, o aumento no número de pagamentos nos dias que antecederam o dia 30 de agosto não é nem uma suspeita, porque os dados são oficiais, e mostra uma interferência no processo.
— Além de estranho, esse aumento é um fato anormal. Essa versão dita pela direção do partido que foi reflexo da mobilização do partido é história para boi dormir. Mas eu confesso não ter elementos para acusar ninguém. Recebi denúncias de vários militantes da nossa corrente e encaminhei à direção do PED. São denúncias que vieram de Minas Gerais, do Espirito Santo e de São Paulo. Espero que essas suspeitas sejam esclarecidas. Não é possível que num só dia mais de 300 mil filiados tenham regularizado seus pagamentos para ficarem aptos a votar em novembro —disse Sokol.
O deputado Paulo Teixeira, que disputa a presidência contra Rui Falcão e que hoje tem algo como 15% do diretório nacional, disse que o deputado Henrique Fontana, que apoia sua candidatura, "apenas" demonstrou preocupação com a compra de votos à coluna do jornalista Ilimar Franco.
— Fontana mostrava sua preocupação com o processo. Eu pessoamente não tenho nenhuma suspeita de irregularidade, por isso não posso dizer que nossa chapa suspeita de alguma coisa errada. Mas se tiver alguma irregularidade, ainda é possível corrigir. Ainda não me debrucei sobre esse assunto, mas a legitimidade da eleição direta do PT não pode ser colocada em suspeição. O PED dá legitimidade à escolha da direção do partido e nós vamos sair fortalecidos nesse processo — disse Paulo Teixeira.
Análise é 'prejulgamento'
Serge Goulart, candidato a presidente nacional do partido com o apoio da ultraesquerda petista e que tem 2% dos votos no diretório atualmente, diz não ter elementos para garantir que alguém do partido esteja pagando para militantes ficarem em dia com as mensalidades.
— Não tenho provas, mas o pagamento massivo parece estar acontecendo, o que é no mínimo estranho dentro do partido. É fácil, porém, a direção partidária comprovar se houve o pagamento em massa, bastando ver como foram pagos os boletos, com local e hora do pagamento — disse Goulart, que descarta, no entanto, que os pagamentos estejam sendo feitos com caixa dois do partido.
OUtro candidato a presidente do PT, Renato Simões, atual secretário Nacional dos Movimentos Populares, diz que qualquer análise agora será "um prejulgamento".
— Vamos aguardar a chegada de todos os dados. A comissão eleitoral, composta por todos as chapas, tem como apurar se houve irregularidades. A minha postura é de esperar a chegada dos documentos e só depois pedir apuração dos fatos.
O secretário de Organização do PT, Florisvaldo Souza, considerou as suspeitas do deputado Henrique Fontana como "lamentáveis".
— Ele fala, mas não apresenta nunhuma prova. De repente ele pode estar falando sobre a situação em seu estado (Rio Grande do Sul), onde ele é majoritário. Na verdade o que houve foi uma grande mobilização no país inteiro para se colocar em dia o maior número possível de militantes para dar maior legitimidade à escolha do novo presidente nacional do partido — disse Florisvaldo, esperando uma retratação do deputado.


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