Tradicionais plantios no interior de PE também são afetados pela estiagem

Criação de rebanhos está foi afetado pela falta de água e ração. Governo diz que recupera açudes e barragens e contrata carros-pipaTradicionais polos agrícolas e pecuaristas de Pernambuco têm sofrido grande prejuízo com a seca que atinge vários estados do Nordeste, desde 2012 - talvez a pior estiagem dos últimos 60 anos, de acordo com o Ministério da Integração Nacional. O G1 viajou por nove cidades do interior do estado que estão em situação de emergência e encontrou trabalhadores rurais e autoridades pedido ações mais rápidas e eficazes do governo para o enfrentamento da longa estiagem. Há mais de um ano com chuvas abaixo da média nessas localidades, plantações de mandioca, feijão, milho, tomate e algumas frutas, além de rebanhos bovinos, caprinos e ovinos estão quase dizimados. A produção de tomate caiu até 70% em Bezerros, no Agreste, considerado o sétimo maior produtor do fruto em Pernambuco antes da seca, segundo a Agência Condepe/Fidem. Os preços dispararam e variam bastante nas feiras e mercados da cidade. No começo de março, por exemplo, uma caixa com 120kg custava R$ 120, produto que há cinco meses era comercializado até por R$ 20. José Torres plantava tomate no Sítio dos Remédios, na Zona Rural de Bezerros, com água usada do açude homônimo. Desde o ano passado, o reservatório está totalmente seco. "Ainda tentei plantar pimentão, mas agora não dá mais nada, está tudo seco. Agora, só compro e vendo animal, mas estão valendo muito pouco", diz. Atualmente, Bezerros está sendo abastecida por carro-pipa, mas a água é destinada apenas para o consumo humano. “Nós pedimos ao governo estadual mais cinco [carros-pipa] para atender a zona rural. Estamos preocupados porque há uma ameaça que a água que vem de Gravatá [no Agreste] para a nossa zona urbana seja suspensa”, afirma o secretário municipal de Agricultura, Erotides Bonifácio de Lima Neto.
Produtores sem renda fixa Também no Agreste, a região brejeira do Brejo da Madre de Deus era destaque no plantio de bananas. Sem a água da chuva e com os reservatórios Santana 1 e 2 vazios, nenhuma semente da fruta consegue mais se desenvolver. As áreas plantadas foram reduzidas a 10% da região antes cultivada. Heleno Antônio de Lima aproveita o caule das bananeiras mortas para alimentar os quatro bois que possui. “Eu tirava até dez milheiros de banana por mês, mas faz mais de um ano que não tiro renda nenhuma. Agora, faço transporte de pessoas nos sábados de feira para ganhar uns R$ 50”, conta. Também não há mais roças de tomate, cenoura, beterraba, macaxeira e maracujá, que costumavam sustentar os agricultores da zona brejeira. “80% da nossa produção agrícola caiu. Estamos tentando buscar recursos junto ao governo estadual para a construção de pequenas barragens e barreiros, recuperação e perfuração de poços e contratação de mais carros-pipa. Também queremos a implantação de uma barragem de grande porte”, informa o secretário municipal de Agricultura, Everton Jó.
Segundo a Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa), a Barragem Ingazeira, em Brejo da Madre de Deus, está em colapso, ou seja, o nível de água está tão baixo que é tecnicamente inviável retirar água desta barragem para abastecer a cidade. "A Compesa está abastecendo a localidade por meio de carros-pipa. Quando o volume de água se normalizar, a situação será contornada", afirma a empresa por meio de nota. Ainda sobre ações em infraestrutura hídrica no semiárido de Pernambuco, a Secretaria Executiva do Comitê Integrado de Convivência com o Semiárido informou que a meta para 2013 é perfurar e instalar 1,2 mil poços e recuperar 400 em todo estado. Cada cidade em situação de emergência deve ganhar cinco poços, cuja execução é feita em parceria entre as prefeituras municipais e o Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), além de outras iniciativas livres do próprio instituto. Rebanhos reduzidos Ainda no Agreste, Surubim sofre com a redução de até 60% dos rebanhos bovinos, especialmente as vacas leiteiras e o gado de corte. A cidade que tem a mais famosa vaquejada de Pernambuco não corre risco de ficar sem a festa, já que o animal que corre nas pistas é criado por fazedeiros mais ricos. O pequeno produtor é mesmo quem sofre. A zona rural de Surubim é abastecida por carros-pipa e não sobra água para os animais. Gilberes de Brito perdeu 60 das 130 vacas leiteiras que tinha. O que o ajuda é um barreiro enlameado quase seco na sua propriedade. "Está faltando ração, só consigo dar palma e silo [uma mistura de milho e capim]", diz o criador, que ainda afirma não conseguir pegar sacas de ração para gado nos armazéns da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Ração inflacionada Com a seca, o preço da ração inflacionou. Às margens da estrada, na entrada do município de Venturosa, no Agreste, vários caminhões estacionam para vender palma e bagaço de cana-de-açúcar, usados na alimentação dos bichos. Trazida de Batalha, em Alagoas, a 'carrada' com 480kg de palma miúda custa R$ 1 mil, o dobro do valor praticado antes da seca. Essa quantidade mantém 10 vacas por 15 dias. "Sempre vendemos tudo porque estão precisando muito, não tem mais pasto aqui", diz o comerciante José Orlando. Os preços inflacionados obrigam o criador Luiz Libório a desfazer-se das ovelhas a qualquer custo. "Não tem mais milho, farelo, capim. O animal não vale mais nem 10% da ração", lamenta. De acordo com o secretário de agricultura de Venturosa, José Jonas Pacheco Vaz, tanto a zona rural quanto a urbana estão sendo abastecidas por carros-pipa. "Vários reservatórios secaram, a Compesa não consegue mais tratar a água da Barragem Ingazeira, que está contaminada por uma bactéria. Se a Adutora do Agreste tivesse saído mesmo em 2012, como previsto, não estaríamos passando por isso", disse. De acordo com o secretário-executivo do Comitê Integrado de Convivência com o Semiárido, Reginaldo Alves, para amenizar a falta de ração animal, estão sendo construídos seis polos de distribuição de cana, nas cidades de Garanhuns, Surubim, Caruaru, Itaíba, São Bento do Una e Arcoverde. O investimento é de R$ 15 milhões e deve entrar em funcionamento a partir desta semana. "Para o Sertão, serão implantados 700 hectares de milho irrigado em Cabrobó, Serrita, Cedro, Ibimirim e Inajá, que vão produzir 20 toneladas de forragem nos próximos 90 dias", informou.
Empreendimentos fechados São José do Egito, no Sertão, tinha forte criação de aves de postura de ovos, mas a estiagem obrigou o fechamento de quase todas as granjas. Francisco de Assis trabalha em uma das poucas em funcionamento, no Sítio Barro Branco, na Zona Rural, com quase 18 mil animais. "Cada galinha precisa, em média, um litro de água por dia para beber e tomar banho. Tivemos que furar um poço aqui há cinco meses para dar conta. Não fosse a seca, a gente podia ter mais 20 mil aves", falou. Os dois reservatórios que abasteciam a cidade secaram e, no início de março, a Compesa colocou em funcionamento a Adutora do Rosário. Na Zona Rural, as pessoas ainda sobrevivem com sete carros-pipa, que só entregam água suficiente para o consumo humano. Assim, as culturas de banana e mamão praticamente não existem mais, segundo o Sindicato dos Trabalhadores Rurais da região. O plantio de milho, cuja produção era a sexta maior do estado, segundo a Condepe/Fidem, também está parado. Ações estruturadoras e medidas pontuais Sobre a implantação de infraestrutura hídrica no semi-árido, o último balanço do Comitê Integrado de Enfrentamento à Estiagem de Pernambuco informa que foram construídos e recuperados 775 açudes, 2.970 barragens e 440 barreiros, além de sistemas simplificados de abastecimento d’água, a maior parte em comunidades rurais de Pernambuco. A Secretaria Estadual de Agricultura tem realizado, desde o começo deste mês de março, viagens ao interior e vem tomando decisões in loco sobre as ações mais emergenciais. A iniciativa começou pelo Agreste Meridional e será estendida até o Sertão do São Francisco. No último dia 7, por exemplo, o órgão autorizou a contratação de carros-pipa e a perfuração e instalação de poços, construção de barragens e instalação de sistemas de abastecimento de água em Venturosa. Em Brejo da Madre de Deus, passou 8 para 12 o número de carros-pipa que atendem a cidade. Essas caravanas ainda vão passar por São José do Egito, Ingazeira, Custódia, Bezerros, Surubim e Carpina, para ver quais ações pontuais precisam ser desenvolvidas nesses municípios. Para todos os municípios em situação de emergência, haverá ações estruturadoras, garante o secretário de Agricultura, Ranilson Ramos. "Até dezembro de 2014, por meio do programa Água para Todos, cada município vai receber sete sistemas de abastecimento de água, beneficiando 400 famílias por sistema, totalizando 47 mil famílias, e quatro barragens, que irão atender no total 22 mil famílias

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