Campos entrega a Dilma carta na qual abre mão de cargos no governo

Dirigente diz que PSB é atingido por 'opiniões, jamais negadas', pela saída.
Governador reafirma que sigla continuará apoiando governo no Congresso.

Do G1, em Brasília, e do G1 PE
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Em carta entregue nesta quarta-feira (18) à presidente Dilma Rousseff, o presidente nacional do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, formalizou a entrega de todos os cargos ocupados pelo partido dentro do governo federal. No texto, divulgado pela assessoria de imprensa do governador, ele diz que o partido "permanecerá, como agora", apoiando o governo no Congresso.
Com a decisão, deixarão postos de primeiro escalão os ministros Fernando Bezerra (Integração Nacional) e Leônidas Cristino (Secretaria Especial de Portos). Eles integram o ministério desde o início da gestão Dilma.
"O PSB vem à presença de Vossa Excelência, formalmente, declinar de sua participação no governo, entregando os cargos que ora ocupa, ao mesmo tempo em que reafirma que permanecerá, como agora, em sua defesa no Congresso Nacional", disse Campos na carta.
A carta foi entregue em mãos por Campos durante reunião de cerca quarenta minutos nesta tarde, no Palácio do Planalto. Segundo o G1 apurou, a presidente teria aceitado bem a decisão e dito que compreendia a deliberação do partido.
A assessoria de imprensa do Planalto informou que, após receber a carta de Campos, Dilma “voltou a sua agenda normal”. O encontro com o governador não constou na agenda oficial da presidente.
Neste momento, temos sido atingidos, sistemática e repetidamente, por, comentários e opiniões, jamais negadas por quem quer seja, de que o PSB deveria entregar os cargos que ocupa na estrutura governamental, em face da possibilidade de, legitimamente, poder apresentar candidatura à Presidência em 2014."
No texto, Campos afirma que seu partido tem sido atingido "sistemática e repetidamente" por "comentários e opiniões,  jamais negadas por quem quer seja" de que o PSB deveria entregar os cargos que "em face da possibilidade de, legitimamente, poder apresentar candidatura à Presidência em 2014".
PSB, disse, não recebe essas manifestações como ameaça e “reafirma seu desapego a cargos e posições na estrutura governamental”. O governador afirmou que o apoio do partido a qualquer governo “jamais dependeu de cargos ou benesses de qualquer natureza”.
Nas últimas semanas, integrantes do PT e do Planalto pressionavam para que o PSB entregasse os cargos no Executivo federal. Dilma teria ficado irritada com o recente encontro entre Campos e o senador Aécio Neves (PSDB-MG), em Recife, no qual os dois potenciais candidatos à Presidência fizeram críticas ao governo.
Divergências
Em outro trecho da carta, Campos diz que as divergências do partido com o governo
não impediram o apoio ao governo. Ele diz, no entanto, que pretende "discutir com a sociedade, de forma mais ampla e livre".
O governador pernambucano lembrou que nas eleições presidenciais de 2010, era "desejo manifesto" do partido lançar candidatura própria. O nome escolhido na época foi o de Ciro Gomes, ex-governador do Ceará que atualmente é secretário de Saúde no governo do irmão, Cid Gomes. O então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, porém, interviu para que a candidatura não fosse lançada.
"O PSB, a partir de uma profunda reflexão e discussão política com o companheiro Lula, abdicou dessa legítima pretensão e decidiu integrar a frente partidária que apoiou a candidatura de Vossa Excelência à Presidência da República", disse.
Campos seguiu a carta dizendo que Dilma, ao assumir a Presidência, convidou o partido para compor o governo, com o que o PSB concordou "sem apresentar condicionantes".
O governador deixou o Palácio do Planalto sem falar com a imprensa. Mais cedo, durante executiva do PSB, ele disse que a legenda deixará seus cargos no governo federal para "ficar à vontade" para "debater" o Brasil em vista das eleições presidenciais de 2014.

Leia abaixo a íntegra da carta de Eduardo Campos a Dilma Rousseff:

Brasília, 18 de setembro de 2013

À Sua Excelência Senhora Dilma Rousseff
Em mãos.
Senhora Presidenta,
Desde 1989, quando da criação da “Frente Brasil Popular”, o Partido Socialista Brasileiro integra, juntamente com o Partido dos Trabalhadores e outros do campo da esquerda, a base política e social que, durante as sucessivas eleições presidenciais de 1989, 1994, 1998 e no segundo turno de 2002, apoiou e, finalmente, levou à Presidência da República, o companheiro Luís Inácio Lula da Silva, cujo governo contou com nossa participação, colaboração e  sustentação, no Executivo e no Parlamento. 
Convidado a ocupar funções governamentais, nosso  Partido contribuiu para os avanços econômicos e sociais proporcionados ao País pelo governo do honrado Presidente Lula, dedicando seus melhores esforços e sua total lealdade nos momentos mais difíceis dos oito anos de mandato.
Em março de 2010, embora contássemos com um pré-candidato à presidência da República e fosse desejo manifesto de nossa base e das lideranças do partido o lançamento de candidatura própria, o PSB, a partir de uma profunda reflexão e discussão política com o companheiro Lula, abdicou dessa legítima pretensão e decidiu integrar a frente partidária que apoiou a candidatura de Vossa Excelência à Presidência da República.
Quando da formação do governo, Vossa Excelência convidou-nos para discutir nossa participação, ocasião em que manifestamos a possibilidade de apoiar sua administração sem necessariamente ocupar cargos. Vossa Excelência, entretanto, expressou o desejo de quadros do PSB na Administração, com o que concordamos sem apresentar condicionantes.
Neste momento, temos sido atingidos, sistemática e repetidamente, por, comentários e opiniões, jamais negadas por quem quer seja, de que o PSB deveria entregar os cargos que ocupa na estrutura governamental, em face da possibilidade de, legitimamente, poder apresentar candidatura à Presidência em 2014.
Longe de receber tais manifestações como ameaça, o Partido Socialista Brasileiro - que nunca se caracterizou pela prática do fisiologismo - reafirma seu desapego a cargos e posições na estrutura governamental, e reitera  que seu apoio a qualquer governo jamais dependeu de cargos ou benesses de qualquer natureza, e sim do rumo estratégico adotado que, a nosso ver, deve guardar identidade com os valores que alicerçam a trajetória política do nosso Partido. Nossas divergências, todavia, não impediram nosso apoio ao governo de Vossa Excelência, mas pretendemos discutir com a sociedade, de forma mais ampla e livre.
O Partido Socialista Brasileiro, nos seus 60 anos de presença na vida política nacional, jamais transigiu ou negociou suas convicções e seus ideais programáticos.
Com longa tradição na luta pela democracia e pela justiça social, o PSB participou ativamente de importantes momentos da vida nacional, como a memorável campanha do “petróleo é nosso”, a luta pela reforma agrária, a luta pelas "Diretas-já" e pela democratização do País. Sempre nos inspiraram exemplos como os de nossos companheiros João Mangabeira, Hermes Lima, Barbosa Lima Sobrinho, Evandro Lins e Silva, Antônio Houaiss, Miguel Arraes e Jamil Haddad.
É justamente pelo apego a essa  história que o partido, nos últimos anos, vem merecendo o reconhecimento da sociedade brasileira refletido no seu crescimento nas sucessivas vitorias eleitorais.
Por todas essas razões, o PSB vem à presença de Vossa Excelência, formalmente, declinar de sua participação no Governo, entregando os cargos que ora ocupa, ao mesmo tempo em que reafirma que permanecerá, como agora, em sua defesa no Congresso Nacional. Esta decisão não diz respeito a qualquer antecipação quanto a posicionamentos que haveremos de adotar no pleito eleitoral que se avizinha, visto que nossa estratégia – que não exclui a possibilidade de candidatura própria – será discutida nas instâncias próprias, considerando nosso programa e os mais elevados interesses do País e a luta pelo desenvolvimento com igualdade social.
Saudações Socialistas,

Eduardo Campos   Presidente Nacional do PSB

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